De teus olhos retirei a tristeza,
bebi as lágrimas salgadas;
lambi o abandono.
Ofereci esperanças,
doei certezas
- segurança
- e os lambuzei com o mel dos meus.
Da tua boca seca
arranquei o riso louco de macho corno,
o sorriso morto de Prometeu
Com os dedos refiz os sulcos da boca ferida.
E com minha própria saliva matei tua sede de vida
Lavei tua alma,
e a vesti novamente em brios.
E - como se não bastasse -
a enfeitei com fios, roubados,
dos pêlos do homem que,
antes de ti, era o meu.
Te abri as pernas,
as portas, a seiva e a cama.
Te banhei no gozo de infinitas noites profanas.
Te ninei em cantigas mundanas.
Depois de lavado, lambido.
Já saciado, curado, vestido.
Retornastes a teu destino de animal predador.
Me deixando apenas alguns pêlos dourados -
que recolhi - esquecidos no cobertor.
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